sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Seca preocupa moradores do Balbino

A seca atingiu em cheio um dos paraísos ambientais do Ceará: o mangue localizado na comunidade do Balbino, distrito de Cascavel, a 63 Km de Fortaleza. O local é berçário natural de peixes, camarões e caranguejos, e não só está desaparecendo como também virando uma salina devido à falta de chuvas e às dunas, que impedem a entrada da água do mar.

Os moradores da comunidade explicam que o rio secou e, por isso, a barragem natural das dunas impede a passagem da água do mar. Assim, eles querem que as autoridades responsáveis derrubem esta barreiras.

As 250 famílias que vivem da pesca, crustáceos e mariscos não sabem explicar tal fenômeno e estão desesperadas sem ter de onde tirar o sustento. O presidente da Associação dos Moradores do Balbino, Francisco Edielson Faustino, afirma que já perdeu as contas das vezes que pediu ajuda à Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) para que esta tome das medidas técnicas e ambientalmente possíveis.

"O rio secou e a barragem natural das dunas impede a passagem das águas do mar, mesmo durante a maré alta", ressalta ele, acrescentando que o órgão chegou a enviar técnicos e prometeu resolver a questão, mas ficou só nisso.

Sem opção, os próprios moradores tentaram agir, mas a ação foi embargada. "A gente não tem alternativa. Ou é isso ou é sentar e chorar a morte do mangue dia após dia", afirma o pescador Raimundo Nonato.

O comerciante Damião Reis Silva conta que, se não fosse a mercearia que instalou na sua casa, não saberia como estaria agora. Ele mostra o cenário. "É sal, acho que a gente poderá até mudar de profissão e começar a vender", ironiza, enquanto mexe no filete de água, areia e sal. A comunidade acredita que, com a abertura da barreira, a situação melhore com a passagem da água do mar, quando a maré encher. "Não podemos ficar de braços cruzados", diz Damião.

Na opinião da professora Maria do Céu, do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), estamos vivendo uma época marcada por um significativo período de seca que provoca mudanças nas características dos ecossistemas costeiros.

A especialista explica que, diante da ausência de afluxo de água, da intensidade da evapotranspiração e do baixo nível do lençol freático em razão da estiagem, a área fica exposta com alta concentração de sais. "O mangue precisa de um ambiente em que haja o interfluxo entre água doce e salgada. O que se observa, no caso de Cascavel, é que esta condição não se apresenta", aponta. Dessa maneira, conforme a professora, os moradores da comunidade do Balbino têm razão em reivindicar que os órgãos ambientais acompanhem o processo em curso.


APA foi criada por lei há 24 anos

A Área de Preservação Ambiental (APA) do Balbino foi criada por meio da Lei nº 479/88 de 21de setembro de 1988. A Praia de Balbino está localizada a 62 Km de Fortaleza e a 3 Km da Caponga, no município de Cascavel.

A APA tem 250 hectares formados por dunas, lagoas, manguezais, praia e diversificações da cobertura vegetal na faixa litorânea. O lugar era, inicialmente, recanto de tribos indígenas, até começarem a chegar negros fugindo da escravidão.

A miscigenação entre as raças é visível ainda hoje entre seus descendentes. Ali, 250 famílias dependem da pesca artesanal de lagosta, peixes e outros crustáceos, o que corresponde a quase totalidade dos moradores.

A barra existente na região é uma reserva de peixes e camarões, que dá sustento a várias famílias do Balbino, Pindoretama, Pratiús, Tijucuçú e Vaca Morta. Em 1997, a comunidade recebeu o Título da Terra do governo do Estado.

Os moradores, que lutam pela sobrevivência no litoral, têm a preocupação com o turismo, que, embora ainda em estágio inicial, vem estruturando um turismo ecológico e comunitário, onde os próprios moradores proporcionem locais de hospedagem, alimentação e momentos de lazer.

Prefeitura garante que tomará providências

O coordenador de Meio Ambiente de Cascavel, Clodoaldo Uchoa, assegurou que, ainda hoje, haverá reunião com o titular da Pasta para analisar os procedimentos necessários para a entrada do pedido de licença ambiental

Enquanto os moradores das proximidades do manguezal da comunidade do Balbino, em Cascavel, esperam por soluções que minimizem o processo de salinização das águas do mangue, os representantes municipais garantem que providências estão sendo tomadas.

Pelo menos é o que diz o coordenador de Meio Ambiente de Cascavel, Clodoaldo Uchoa. Segundo Uchoa, ainda hoje (15), será realizada uma reunião com o titular da Pasta, Luís Cardoso, na qual serão vistos os procedimentos para a entrada junto à Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Semace) de toda a documentação exigida para a liberação da licença ambiental, que dará fim à luta pela sobrevivência do mangue.

Uchoa afirma que não só a questão ambiental da Praia do Balbino será resolvida. Há, também, a problemática em Caponga, que sofre a mesma ação de aterramento. A saída encontrada será o encaminhamento de um estudo topográfico da área. Duas empresas de consultoria serão acionadas após licitação de tomada de preços.

O coordenador assegura, também, que o único empecilho é encontrar um local adequado para o despejo dos 30 metros cúbicos de areia que serão retirados da Praia do Balbino. Ele adianta que, para a efetuação do serviço, será preciso repassar à Semace, R$ 2,5 mil, referentes aos trabalhos nas praias de Balbino e Batoque, que também será alvo das intervenções.

Enquanto não avançam os trabalhos de revitalização da praia do Balbino, a Semace aguarda a entrada do pedido de licença ambiental. De acordo com informações da assessoria de comunicação da Pasta, a solução para o impasse é uma questão meramente administrativa.

Segundo o órgão, basta que o Poder Público ou até mesmo uma associação comunitária entre com o pedido junto ao órgão. Como é uma Área de Proteção Ambiental (APA), é de competência da Prefeitura Municipal de Cascavel resolver a questão, garante, ainda, a assessoria de comunicação. 

FONTE: Diário do Nordeste

Nenhum comentário: